Não sei porquê mas bateu-me uma saudade do meu bom amigo Padre Abílio. Saudade das nossas sãs conversas a propósito de tudo e de nada. As que eu gostava mais eram as do Café do Orlando… já fora d’horas. Essas eram as que empolgavam. Mas lembrei-me, essencialmente, das outras. De quando me casou. De quando baptizou o meu filho. De quando baptizou a minha filha. Das comunhões de ambos. Das procissões. Do Jornal (que me continua “atravessada”). Das lições de português… Enfim, dele.
Mas bem isto a propósito de quê? Das recentes declarações públicas de um destacado elemento da Igreja. Teve a “ousadia” de propor que os srs. Políticos Católicos doassem vinte por cento dos seus ordenados para apoio aos mais desprotegidos. Ui! O que ele foi dizer… Primeira reacção: Políticos são políticos e não há cá católicos ou não católicos. São todos iguais. Mas atenção: há que distinguir entre católicos praticantes e não praticantes. Nada de misturas.
Foi aqui que relembrei de uma longa conversa que tive com o Padre Abílio. Dizia ele, e eu continuo a estar inteiramente de acordo: não há católicos praticantes e católicos não praticantes. Há católicos e outros crentes noutras religiões. Mas nunca a comparação veio tão a propósito. Era vê-los a “mandar a bola para canto”. O Sr. Eclesiástico que vá lá dar missa e que não se meta no plenário republicano, porque isto de “mexer no meu bolso” tem muito que se lhe diga. Então já não bastava PEC? Então já não chegava o Governo? Mais um esbulho? Nã!Nã!Nã!!! Ordem na casa!
Cada um dos interrogados fugiu como pode à questão. Dinheiro para os necessitados? Isso depende da consciência de cada um. Mas… que consciência? Do Bloco de Esquerda? Do CDS/PP? Do PCP? Do PS? Do PSD? D’Os Verdes? (Isto seguindo a ordem alfabética para não ferir susceptibilidades). Se for como aquilo que se tem dito pela proposta de alteração à Constituição, estamos arranjados.
Não façam juízos precipitados. Não tenho qualquer opinião formada em relação à proposta. Tenho em relação à maneira agressiva como ela tem sido contestada pelas mais diversas figuras da nossa política. Uns de uma maneira, outros doutra. Ou com uma vertente política, ou com uma vertente mais social. Vou deixar isso para os mais entendidos. O que me choca é que venham aí uns “tipos” (para não dizer “gajos”), armados em senhores da verdade e que cada vez mais me merecem menos credibilidade, a apelidar os proponentes quase de um crime de lesa pátria.
Penso que não vale a pena estar aqui a fazer a apologia do ego. Todos sabem que eu não sou do PSD mas também é bom que saibam que não sou do PCP. Sou um cidadão comum que defende as suas ideias até à exaustão sem prestar vassalagem a quem quer que seja. Sou aquele tipo de pessoa de quem se gosta ou se odeia. Felizmente, há mais quem goste e isso faz-me estar de consciência bem tranquila. Mas o que eu queria dizer é que não aceito, repito: não aceito, que venha um tipo qualquer à televisão dizer o que muito bem lhe apetece, sempre mandatado pelo povo português, a que eu também pertenço, apelidar o, ou os proponentes, de tudo quanto lhes vai na cabeça: irresponsáveis, irrealistas, demagogos, etc., etc., etc., e pergunto: e eles? Sim! E eles? São os iluminados? Só eles são sabedores do que é melhor?
Então, e as outras revisões constitucionais? Foram feitas por responsáveis, realistas, democratas, etc., etc., etc., não estarão no mesmo patamar? E olhem que esta afirmação vindo dum tipo como eu… tem muito que se lhe diga. Mas qual é a credibilidade destes “tipos” para virem à praça pública denegrirem a imagem de quem quer que seja sem o direito de resposta? Não deveria este ser um assunto de discussão da Assembleia da República? Ah! Percebo. Estamos na mesma. Se aquilo não fosse um bom emprego, alguém queria ir para lá? Pois é. Percebo. Mais do mesmo!
Estava aqui a escrever incessantemente sobre isto mas tenho que terminar o artigo. Este é daqueles temas que nunca se esgota. É só atirar uma pedra e só se ouvem vidros a estalar. Foi por isso que me lembrei: porque é que em vez de pedir dinheiro dos vencimentos dos políticos, católicos ou outros, não recorremos aos famosos “três efes” porque já fomos conhecidos? Sei lá. Porque não aprovar uma lei que obrigue a descontar vinte e cinco por cento das receitas de Futebol, das casas de Fado e das dádivas Fátima? É uma opinião, como qualquer outra.
Seria, talvez, bom que nos capacitássemos de que “isto” está mau para todos. Mais para uns do que para outros, é verdade, mas para quê estarmos a alvitrar cenas que sabemos nunca vão ser culminadas. E, já agora, apetece-me perguntar: e o caso do Padre de Fafe? Como é que se resolve? Isto da galinha da vizinha ser mais gorda do que a minha, tem muito que se lhe diga…
Abreijos,
Helderix
